O dia começou e ela mudou a praia para depois do almoço para gastar menos dinheiro. Ela almoçou e foi na frente, como eu iria de moto saí de casa quase uma hora depois. Antes de sair de casa eu liguei para ela e marquei exatamente em frente ao posto cinco para não haver desencontro já que ambos estávamos sem crédito e então ela me deu o número do seu namorado que era da mesma operadora que o meu, o que facilitava muito as coisas porque eu tinha "bônus".
Saí de casa e trinta minutos depois estava em frente ao posto cinco na companhia de muitos desconhecidos, quem deveria mesmo estar não estava, então peguei o celular e liguei para o tal numero do namorado mas não fui atendido. Pensei:
-Devem estar tomando banho, vou dar um tempo para que vejam a chamada perdida.- E fui tomar banho de mar.
Quando voltei vi que não haviam retornado, liguei mais uma vez sem sucesso e resolvi começar a ler o livro que havia levado para o caso de um improbabilíssimo desencontro.
Li dois capítulos e voltei a ligar, mas nada de respostas. Depois de uma longa hora e trinta minutos resolvi ir até o posto seis - não imaginava que era tão longe.
Cheguei lá e nada, mas na volta tive a agradável surpresa de encontrá-la. Estava apenas com o namorado, rindo de algo que pouco me importa. Só que o longo tempo sozinho mais a longa caminhada era tempo suficiente para deduzir muita coisa.
Ficaram cerca de duas horas sem olhar a porra do telefone pra ver se o otário que disse estar a caminho havia dado notícia, não estavam onde deveriam estar e a primeira coisa que ela disse ao me ver foi:
- Como você encontrou a gente?
"'Como você encontrou a gente?' como assim? Não era para encontrar? que espécie de filha da puta é você que chama alguém à praia e deixa essa pessoa sozinha?" pensei.
Mas ao contrário de me transtornar apenas cumprimentei, ouvi cerca de vinte segundos de desculpas e me despedi. Não lembro bem o que disse, mas em algum lugar tinha a frase "Tô muito puto!".
Disse que ia embora, mas preferi voltar para a solidão do posto cinco. Não há lugar melhor para pensar na vida do que a praia.
Depois de algum tempo consegui ficar mais tranqüilo, e peguei minhas coisas para ir embora, liguei para minha mãe e perguntei se poderia usar seu cartão para comer em um fast food, ela deixou, fácil de mais até.
Chegando lá fui recebido por uma sorridente atendente que disse "Só estamos aceitando pagamento em dinheiro". Contei até o número mais alto que consegui, agradeci e saí.
Chegando em casa chamei um amigo para comer em um podrão, Fazia cerca de dezessete dias que não chovia no Rio, pois é, choveu hoje.
Chegando no podrão todo molhado descobri que também não estavam aceitando cartão, "normal" você deve estar pensando, mas aquele podrão é o único da região que aceita e excepcionalmente hoje não estava.
Gastei os dez reais que tinha na carteira para cortar o cabelo. Ao menos o sanduíche estava bom e ainda não passei mal.
Mas ainda estou querendo cortar o cabelo.