Era manhã do primeiro dia de carnaval e Pablo não tinha grandes planos em mente, preferiu não viajar com seu irmão e ir pro mesmo lugar que ia todo os carnavais e que sempre prometia não voltar, não que ele não gostasse, mas depois de um certo número de carnavais no mesmo lugar acabava ficando chato.
Ele estava completamente sem dinheiro, só receberia uma semana depois do carnaval e sua mãe detestava lhe emprestar dinheiro para bebida. Foi então que ela chegou do mercado e comprou algo que comprava somente em ocasiões especiais, cerveja. Não era muita, na verdade não dava nem pra fazer uma pessoa cambalear, eram apenas duas latinhas de mousebier. Mas a quantidade não importava porque a cerveja não era para ele, ela lhe deu a única idéia que poderia tornar seu carnaval um pouco menos chato: comprar bebida e levar de casa! Como? Com o cartão de crédito que ela mesma havia lhe dado.
É claro que ele não levaria as cervejas na mão, então teve que comprar também uma bolsa térmica, o que reduziu bastante o número de bebida que poderia comprar, gelo o seu congelador faria. Ligou então para Rafael, Jorge e Douglas, um dos seus maiores amigos, e contou sobre a sua brilhante idéia, todos aprovaram e naquela mesma tarde foram às compras. Compraram o essencial, vodka e cerveja e ainda ficaram se perguntando se não estariam comprando bebida demais.
- Se sobrar a gente bebe depois,- Disse Pablo - o que não pode é faltar!
Estava tudo pronto para o carnaval, só faltava mesmo anoitecer, e antes que isso acontecesse seu telefone tocou.
-Koé Pablão, meu carnaval melou e eu to no rio, qual a boa de hoje?- Perguntou Davi.
-Eu e minha galera vamos aqui perto, não é como a zona sul mas já é alguma coisa.
-Então eu e Sabiá estamos indo pra aí!
-Tudo bem, mas tragam dois engradados porque estamos levando bebida de casa, se quiserem podem dormir aqui em casa.
-Beleza, até mais tarde.
Davi e Anderson, ou Russo e Sabiá como todos os chamavam, eram dois amigos que estudaram com Pablo no ensino médio, mas que ainda o acompanhavam em mesas de bares.
O grupo estava fechado e o carnaval começou, decidiram levar metade da cerveja que era para durar todo o carnaval apenas para garantir que não faltasse, o que deixou a bolsa um pouco pesadíssima, mas para cada problema há uma solução e a desse era não ficar com as mãos vazias.
A bolsa foi esvaziando numa velocidade incrível, o que fez com que chegassem lá já um tanto quanto animados.
Não estava muito cheio, chovia aquela noite, mas ao que parecia não era problema para nenhum dos seis. Se divertiam como nunca antes haviam feito, parecia que só ali, já dando adeus a suas adolescências, no mesmo lugar de quase todos os anos anteriores que perceberam o verdadeiro significado de carnaval.
Pablo então conhecera a Carol, a primeira do carnaval e única daquele dia, seus amigos disseram que era muito bonita, ele mesmo nem sabia, havia bebido além da conta, estava de óculos escuros e encharcados ainda por cima, mas mesmo que fosse feia, era carnaval!
Mesmo com toda improbabilidade toda cerveja que levaram acabou, por sorte, já que ninguém queria ter um coma alcoólico. E às duas horas da manhã a musica parou para a infelicidade de todos, então foram forçados a vagar lentos e tortuosos para suas casas.
Era apenas o primeiro dia de carnaval, mas estavam certos de que seria o melhor de suas vidas.
O segundo dia começou como todo dia após uma noite de exageros, "nunca mais vou beber" era o que todos diziam, mas ninguém é louco ou lúcido o suficiente para cumprir tal promessa, então lá foram eles, dessa vez sem Russo e Sabiá que haviam ido embora prometendo voltar no dia seguinte, mas com a mesma bolsa, a mesma quantidade de bebida -a outra metade- e o mesmo plano: esvaziar o mais rápido possível para deixar mais leve.
Como todo bom plano, este estava funcionando bem e chegaram mais uma vez felizes e contentes para mais uma noite de folia, dessa vez um pouco mais cheia já que não estava chovendo.
Sem dúvidas foi o dia mais marcante do carnaval, pelo menos para Pablo, além de ser o dia que mais saiu com garotas, chegou ao "incrível" marco de duas,Julia e Josy, antes que a música cessasse às duas da manhã, após as duas encontrou a única pessoa que não gostaria encontrar, não enquanto estivesse sóbrio, mas não estava, naquela noite além da cerveja beberam também a garrafa de vodka e Pablo já não raciocinava direito. Antes que percebesse já estavam se beijando, Pablo encontrara Jéssica.
Ela estava em estado igual ao dele, senão pior. E já que encontrara ao final da festa teve a única idéia que qualquer bêbado no seu lugar poderia ter: "Vou levá-la para casa... a minha casa.".
Foi o que fez, não com muita facilidade, já que os dois se arrastavam pelas ruas, levaram quase duas horas em um caminho que facilmente é percorrido por uma idosa com artrite em vinte minutos.
Enfim chegaram, e Jéssica perguntou:
-Tem camisinha?
Pablo apenas fez que sim com um sorriso de quem esperava por aquela pergunta.
A mãe de Pablo não tolerava a presença de "ficantes" em casa, então ele fez o máximo possível para não acordá-la, o que não funcionou muito bem já que quando ele subiu para pegar a camisinha ela perguntou:
-Quebrou alguma coisa lá embaixo?
-Quase isso.- Respondeu ele sem pensar bem nas conseqüências dela levantar para averiguar, o que não aconteceu por uma sorte quase divina.
As coisas correram quase como o planejado, Pablo conseguiu fazer com que Jéssica voltasse para casa antes que sua mãe resolvesse descer e acabar com sua vida. Mas nem tudo correuperfeitamente bem.
Um cigarro pertencente à Jéssica caiu no chão da sala, o que já traria muitos problemas, mas não era um cigarro comum, era provavelmente o maior baseado que Pablo veria na vida. O problema é que ele não viu naquela noite e quando viu ele já estava nas mãos da sua mãe que àquela altura já fazia as maiores juras de desgosto de sua vida...